terça-feira, 29 de julho de 2008

A Época da Inocência


Título original: The Age of Innocence
Ano de lançamento (E.U.A): 1993
Direção: Martin Scorsese

Como muitos aqui sabem, sou fã fervoroso e declarado de Scorsese. Adoro desde seus clássicos memoráveis até filmes menos renomados e consagrados, mas não por isso menos elogiados. Sua filmografia é espetacular, muitos poucos diretores possuem tamanho acervo de obras de grande qualidade no currículo como ele. Tive uma enorme felicidade ao certo dia recentemente, numa videolocadora, avistar ´´A Época da Inocência``, um dos poucos filmes que faltava para que eu possa completar sua exemplar filmografia. Posso dizer que depois de tanto tempo, já sabia que iria simpatizar com o filme, já que nunca deixaria de gostar de nenhum de seus filmes, nos vários a que assisti. Grande conhecedor de Nova York, Scorsese demonstra um estudo diferente da cidade dos seus demais filmes, ora pela época ora pelo enredo apresentado na trama. Mas suas características incomparáveis são claramente presentes nesta obra.

Nova York, 1870. Newland Archer (Daniel Day-Lewis) é um advogado da alta sociedade aristocrática que como quase todos se submete as tendências e costumes de modo inquestionável que a sociedade impunha. Ele irá se casar com May Welland (Winona Ryder), uma bela jovem meiga e inocente admirada pela responsabilidade de compromisso com os costumes e atitudes da época. Mas após conhecer a Condessa Ellen Oneska (Michelle Pfeiffer), uma mulher linda que havia se separado de seu marido e voltado da Europa, ele começa a sentir desejo e um amor incontrolável e involuntário, contra a sua vontade, que ele nunca esperava sentir, por ninguém menos que a prima de sua noiva. Sendo discriminada pela atual sociedade americana pelos seus ideais liberais na época, ela recebe a ajuda de Archer que tenta defendê-la, devido ao seu amor incontrolável e que passa aos poucos a ser correspondido pela Condessa, chocando-se com as tendências e pensamentos atuais, e chocando-se acima de tudo com a índole de si mesmos.

Com esta trama temos a oportunidade de analisar toda a estrutura da sociedade americana da época, algo bastante similar com ´´Amacord`` de Fellini, mas este logicamente mais cômico. E ninguém melhor que Scorsese para fazer isso. Mais uma vez a narrativa de seu filme conduz a obra, dando-nos uma maior percepção do que estava ocorrendo. Outro ponto fundamental para o perfeito entendimento da obra são os célebres plano-sequências do diretor, aqui muito bem elaborados e realizados, servindo acima de tudo para conhecer os vários personagens da história, quando este junta-se à narrativa. Outro do qual sou fã incondicional é Daniel Day-Lewis e aqui ele faz um dos seus melhores trabalhos. Seu personagem sente um desejo que ele mesmo tenta barrar e impedir que se realize, e percebemos isso através das feições que ele transpõe para a tela (destaque para a cena onde ambos declaram-se un para o outro e tentam lutar e lidar com este sentimento ao mesmo tempo). Michelle e Winona também não deixam por menos, são ótimas, mas diante de Lewis são ofuscadas.

Para os impacientes e menos interessados pode soar um pouco chato e monótono (que é em algumas cenas), mas é um filme calmo e tranquilo com uma poeticidade incrível. Essa poeticidade é também atingida pela trilha sonora e fotografia lindissímas (a cena do píer é sublime na unidão destas duas). Ótimos figurino e direção de arte dando uma verídica imagem da época. Para os fãs ou não de Scorsese, recomendo sem dúvidas.

Cotação: 8.5


quarta-feira, 23 de julho de 2008

Juventude Transviada


Títulgo original: Rebel Without a Cause
Ano de lançamento (E.U.A): 1955
Direção: Nicholas Ray

James Byron Dean; James Dean, tornou-se um dos maiores ícones da história do cinema em um período curto de dois anos, fruto de apenas três grandes clássicos da época: ´´Vidas Amargas``, de Elia Kazan, ´´Assim Caminha a Humanidade``, de George Stevens e ´´Juventude Transviada`` de Nicholas Ray, este considerado por muitos o melhor deste brilhante ator, o filme que define exatamente o que fora James Dean para o mundo. Ele foi o representante dos jovens cansados e inconformados com o sistema de regras e mudanças a que eram submetidos, revoltados e oprimidos, verdadeiros incompreendidos. Portanto este filme demonstra o que foi James Dean, e que após sua infeliz, trágica e precoce morte, o transformou quase que em um símbolo. A sensação que tive ao assistir seus três grandes filmes foi a mesma que tive ao assistir o último filme de Heath Ledger ´´Batman - O Cavaleiro das Trevas``, resolvi então homenageiar Dean ao lembrá-lo e por ter visto recentemente ´´Vidas Amargas```.

Jim Stark (James Dean) é um jovem problemático. Fez os pais se mudarem para várias cidades, devido às confusões do rapaz, até fixarem-se em Los Angeles. Lá Jim é preso em plena madrugada por embriaguez de desordem. Na delegacia ele conhece Judy (Natalie Wood) e Platão (Sal Mineo) e é liberado por um policial que compreende a situação de Jim na casa em que vive, recebendo amor superficial dos pais e cansado da maneira sbumissa como sua mãe trata seu pai. No dia seguinte ele vai à escola e tenta se aproximar de sua vizinha, a própria Judy, no caminho. Logo arranja encrenca com Buzz (Corey Allen), namorado de Judy e líder de uma gangue do colégio, que provoca Jim até seu limite e os dois partem para uma briga de faca. O único amigo de Jim é Jhon Crawford, conhecido como Platão (aparentemente obcecado pela amizade de Jim), o qual Jim também havia conhecido na delegacia e que o acompanha até as montanhas da cidade onde fora marcado entre Jim e Buzz um ´´pega`` de carros.

Com o objetivo de adquirir mais respeito e ganhar atenção de Judy ele vai e durante a disputa (cena clássica do cinema) algo acontece, que mudará o rumo e trará trágicas consequências àqueles jovens. Este filme em si é revolucionário, representa até hoje a rebeldia e a liberdade almejada pelos jovens. Jim não era um garoto revoltado por ser pobre ou miserável, sua rebeldia surgia do seu próprio meio, surgia por ser jovem e precisar voltar-se contra algo, como diz o próprio título em inglês: ´´Rebel Without a Cause``; rebelde sem causa. Seu mundo era o suficiente para transformá-lo num rebelde. Por isso James se tornara uma lenda, ele fora o incompreensivo e detentor das inúmeras vozes de inconformistas da época, queria apenas curtir e livrar-se dos problemas que o cercavam.

As atuações na obra são impecáveis. Dean dispensa mais comentários, sua morte toma dimensões tão absurdamente trágicas quando percebemos o ator que estava nascendo dentro dele, como muitos apontam ele seria um novo Brando. Natalie Wood incorpora uma perfeita patricinha da época enquanto que Sal Mineo faz o tipíco excluído e rejeitado, que ao encontrar um amigo transborda-se na loucura insana entre felicidade e delírio. A direção de Nicholas Ray foi extremamente detalhista e forçamente trabalhada, dá ao filme um universo veridicamente jovem e concreto, na medida em que os personagens ganham formas cada vez mais reais e presentes na nossa sociedade. Um filme exemplar e perfeito para estudar o comportamento dos adolescentes, que são na verdade em sua grande maioria, rebeldes sem causa.

Cotação: 9.0

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Estômago


Título original: Estômago
Ano de lançamento (Brasil/Itália): 2007
Direção: Marcos Jorge

João Miguel pode ser considerado como um dos melhores atores nacionais da atualidade, tomando de base seus recentes filmes e analisando que o ator só vem acertando ultimamente, sejam nos projetos muito bem escolhidos ou no talento enorme que verifica-se nos seus trabalhos. Depois de uma pequena ponta em ´´Cidade Baixa`` ele sobrou, e surpreendentemente roubou a cena no sensacional ´´Cinema, Aspirinas e Urubus``, e dentre outros fez ´´O Céu de Suely``, ´´Mutum`` e agora o mais recente ´´Estômago``. Todos ótimos filmes com atuações excelentes que ajudaram a colocá-lo num patamar altíssimo de grande qualidade. Este filme, além de contar com as inspiradas atuações, não só do João, possui um roteiro muito bem escrito e desenvolvido, transportado para o filme de maneira segura pelo iniciante Marcos Jorge.

Raimundo Nonato (João Miguel) é um nordestino que chega a cidade grande com a esperança de uma nova vida. Sem lugar onde ficar ele começa a trabalhar como faxineiro e cozinheiro de um boteco, em troca apenas de moradia e comida. Suas coxinhas ficam famosas e atraem freguesia para o local, como Giovanni (Carlo Briani), dono de um famoso restaurante italiano e que, ciente do talento de Nonato em cozinhar, o contrata. Nonato vai aprendendo e prosperando no novo restaurante e mantém relações com a prostituta Iria (Fabíula Nascimento), na qual ele parece estar apaixonado. Este é na verdade o passado, pois no outro lado da história Nonato está preso pelo que fez no passado (algo que até o final do filme não sabemos o que seria) e divide cela com outros presos, incluindo Bujiú (Babu Santana), o chefão. Quando os outros presos sabem da habilidade culinária de Nonato, ele logo começa a cozinhar para seus companheiros de cela ganhado mais respeito e conhencimento.

A trama do filme se divide entre passado (Nonato livre) e presente (Nonato preso), uma técnica bastante dominada pelos roteiristas e o diretor. Um trabalho em conjunto para que o filme não se torne confuso, grande mérito de ambos. As atuações são todas excelentes, desde do sotaque e timidez nordestina do personagem incorporado por João Miguel, até Fabíula como uma prostituta das ruas (ela engordou bastante para fazer o personagem), Carlo Briani faz um personagem engraçado e sério ao mesmo tempo, e ainda de maior destaque e surpreendente está Babu Santana como o criminoso mandante do presídio. As piadas de humor negro, altamente de bom gosto, servem para amenizar a situação e retirar a naturalidade dos atores, algo muito forte na película.

Segundo longa de ficção do diretor Marcos Jorge, que consegue manter o clima de humor e drama bem equilibrados e correlacionados na trama. Ótima trilha sonora alternando-se na sua intensidade e suavidade de acordo com os diferentes momentos da obra. Após ver o final do filme, fiquei bastante surpreso e chocado, mas parando e refletindo pode-se ver que foi um pouco exagerado e desnecessário, principalmente a última frase falada ou pensada pelo personagem de João Miguel. Queria ser surpreendente ? Com certeza foi, mas forçou um pouco a barra para chegar a este ponto, mas nada que estrague o filme, que ainda assim é ótimo e mais uma vertente de que o cinema nacional está progredindo. Tem muitas merdas feitas pelo nosso cinema ? Demais. Mas temos muitas coisas boas, sem patriotismo e apelação.

Cotação: 8.0

domingo, 13 de julho de 2008

Serpico





Título original: Serpico
Ano de lançamento (E.U.A): 1973
Direção: Sidney Lumet

Sidney Lumet é um dos grandes diretores do cinema mundial no qual não tem seu devido reconhecimento e consagração merecidas. Já fez grandes clássicos tais como ´´12 Homens e Uma Sentença``, ´´Um Dia de Cão``, ´´Rede de Intrigas``, e continua a fazer ótimos filmes no cenário atual como o muito bem recebido pela crítica ´´Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto``. O filme ´´Serpico``, considerado por muitos a sua melhor obra, é mais um claro exemplo dessa vertente, um filme grandioso de um diretor super competente e magnífico juntando-se a um dos melhores atores da história do cinema; o sempre espetacular Al Pacino. Pacino aliás provou que não queria ser um sexy simbol, mas sim um grande ator, já que este foi seu primeiro filme após ´´O Poderoso Chefão``, que o revelou para o mundo.

A história verídica de Francesco Serpico; Frank Serpico (Al Pacino), um policial recém-formado de origem humilde e simples, o tipíco rapaz adorado por todos em seu antigo bairro. Ao entrar na academia Serpico insiste a todo tempo em mostrar serviço e dar-lhe de tudo para proteger a lei e a sociedade. Eis então que Frank conhece a verdadeira face da polícia de Nova York, ainda de uniforme ele recebe suborno, e aos tempos que vai mudando de cargo percebe mais suborno e corrupção no seu local de trabalho. Todos recebem dinheiro sujo, menos Serpico que fica indignado com seus colegas e a atual situação da corporação policial. Ele decide então denunciar e ir a tribunal depor contra a intransigente situaçaõ que se encontravam os departamentos da cidade, mas comissários, advogados, presidentes da câmara e juízes parecem igonar o fato e Serpico se vê sozinho em perigo com a vida, ameaçada por quase todos com quem convive.

Serpico é um homem solitário, incapaz de demonstrar um verdadeiro amor por uma mulher, já que ele se apaixona acentuadamente pela namorada, mas ela (que o ama mais ainda) nao suporta mais viver naquela situação, onde é excluída da vida do namorado, que preferencia o trabalho e a luta contra a opressão. Um homem inconvencional, um policial de barba e bigode gigantes no melhor estilo ´´hippie``, um homem de poucos amigos (não que ele queira), pois como dito por um policial corrupto no filme: ´´Não se pode confiar num policial que não aceita suborno``. A atuação de Pacino é simplesmente espetacular e comovente, ele incorpora o próprio Serpico e muda seu caminhar e falar, sua própria personalidade, sem deixar de lado o velho Pacino que todos conhecemos; as feições e ataques de raivas que adoramos.

Al não é o único ótimo em Serpico, mas é claramente o de maior destaque e relevância. Bob Blair como um dos únicos fiéis amigos de Serpico também está excelente. Aliás, o tamanho da corrupção é tão abrangente no filme que chegamos a desconfiar deste próprio personagem. A direção de Sidney é primorosa e detalhista, onde destaca-se a bem sucedida tentativa de demonstrar o mundo isolado de Serpico, fruto também da grande montagem e da comovente trilha sonora. E quando o próprio Serpico deixa escapar um pequeno choro no final, reflete sobre tudo que acontece hoje em dia. Sua luta e nossas lutas são em vão contra um sistema que nunca irá mudar.

Cotação: 9.0

terça-feira, 8 de julho de 2008

Os Imperdoáveis




Título original: Unforgiven
Ano de lançamento (E.U.A): 1992
Direção: Clint Eastwood

Clint Eastwood começou sua carreia como ator em 1955 e desde então fez sucesso no mundo inteiro como o homem durão, frio e calculista seja de filmes clássicos de faroeste como nas memoráveis parcerias com Sergio Leone, seja como o policial cabeça dura Dirty Harry, entre vários e vários outros personagens. Sua carreira de ator era brilhante, pois Clint era um ícone das masculinidade na época. Mas sem dúvidas melhor ainda seria sua carreira de diretor, o qual em quase todos suas obras também atuava. Na enorme filmografia deste grandíssimo diretor consta uma película, onde absolvido o aprendizado dos diretores os quais trabalhava (principalmente Leone), Clint fez na minha particular opinião o melhor faroeste de todos os tempos; Os Imperdoáveis. Talvez eu prefira este à aquele por ser mais precisamente um drama de faroeste, dispensando quase todos os clichês do gênero.

Bill Munny (Clint Eastwood) é um ex-pistoleiro assassino que abandonou a vida do crime e vive na miséria com seus dois filhos, frutos da união com sua mulher já morta de quem ele tanto amava. Eis que surge um jovem pistoleiro que oferece a Bill a oportunidade de partir numa caçada para matar dois rapazes que haviam maltratado uma prostituta, e que pagaria 1000 dólares a ele. Decidido de não o fazer Bill mais tardiamente reflete sobre a proposta e convida seu ex-parceiro do crime Ned Logan (Morgan Freeman) para acompanhá-lo e juntos com o jovem pistoleiro buscarem os dois rapazes para assassiná-los. As prostitutas por sua vez espalhavam a oferta de vingança para todos os pistoleiros com quem transavam e a notícia correu por todo o Texas, fazendo com que criminosos como Bob English (Richard Harris) venham à pequena cidade.

Mas o lendário xerife da cidade Little Bill Dagget (Gene Hackman) descobre do ocorrido e assim que Bob chega à cidade, espanca severamente e o prende na frente de todos, para que assim saibam que bandido algum passará impune por lá. Diferente dos famosos personagens de Clint vemos em Bill um homem nervoso e amedontrado do seu passado, claramente abalado e debilitado emocionamente, onde concluimos que no seu estado ele jamais consegueria matar os homens. E a transformação do personagem, praticamente da noite para o dia é fantástica e sublime, resultado de um brilhante roteiro, uma direção inovadora e criativa, além da própria atuação do Clint. A direção de Clint é ainda mais brilhante por dispensar os repetidos clichês do gênero e tomar um estilo de filmagem e continuidade totalmente diferente.

Clint faz não um faroeste propriamente dito, mas sim um drama de faroeste. A história e seus personagens não se baseiam em bandido e mocinho (herói), ele faz detalhadamente um estudo psicológico de cada um dos personagens principais, levando a película a outras dimensões. Todas as atuações são sensacionais, destacando-se Gene Hackman como o simples xerife Little Bill que não aspira medo e tormento em momento algum. Quanto às categorias técnicas são todas perfeitas e de grande encaixe na obra, principalmente a linda e espetacular trilha sonora, além da fotografia que ora frisa o rosto do personagens demonstrando seu interior, ou os ambientes e pasagens de maneira grandiosa. Enfim, uma obra-prima magistral, um dos melhores filmes que tive a oportunidade de assistir.

Little Bill: ´´Você é William Munny, do Missouri, matador de mulheres e crianças.``
Bill Munny: ´´Isso mesmo. Já matei mulheres e crianças. Já matei quase tudo que anda e rasteja na Terra. E estou aqui para matar você Little Bill.``

Cotação: 10

sábado, 5 de julho de 2008

O Sobrevivente


Título original: Rescue Dawn
Ano de lançamento (E.U.A): 2006
Direção: Werner Herzog

Vindo de um diretor de certo renome no cenário mundial como Werner Herzog, assim que avistei O Sobrevivente na locadora decidi locá-lo e mais tardiamente comentar no blog sobre o filme. Logo nos primeiros minutos pensei que viria a primeira nota cruel e negativa dada por mim nas postagens do blog. Esperava claramente muito mais num filme de um diretor que fez dois trabalhos fantásticos como ´´O Enigma de Kaspar Hause`` e ´´Nosferatu - O Vampiro da Noite``. O Sobrevivente não é lá um grande filme, seu início é medíocre com algumas cenas imaturas, não chega a empolgar tanto, mas vale ao menos pelas ótimas atuações a partir da metade do filme e ao realismo passado quando vemos seres-humanos degradando-se fisicamente num meio cruel e desumano.

Como dito o início é frustrante, não consigo lembrar-me de nada positivo no início da película, as atuações são ruins, a montagem, a trilha sonora, a fotografia e principalmente a direção, que juntos pareciam aqueles filmes de guerra da década de 80, cheio de missões mirabolantes. Quando o personagem é capturado tudo acontece de forma muito natural e descompromissada, sem convencer ao espectador do que está acontecendo. Quando ele é finalmente levado ao campo de concentração o filme toma novos rumos e passa sem dúvidas a satisfazer um pouco mais a vontade de quem o assistia. Parece que tudo muda, principalmente as atuações que passam a ser o ponto forte do filme, baseada no trio Christian Bale, Steve Zahn e Jeremy Davies.

Dieter Dangler (Christian Bale) em uma de suas missões cai com seu avião em Laos durante a Guerra do Vietnã e é capturado e mandado para um campo de concentração, se tornando um prisioneiro de guerra, sendo brutalmente torturado. Ele então com seus companheiros de cela tenta bolar um plano de fuga, nos quais os americanos Duane (Steve Zahn) e Gene (Jeremy Davies) e mais três vietnamitas também prisioneiros vão participar. Dieter é convencido para antes esperar chegar o período de chuva, para que assim enquanto estejam na floresta eles tenham água, além de organizar o grupo para todos guardarem uma parte do arroz consumido no almoço e esconderem, pois precisariam na fuga.

O filme melhora bastante, mas não deixa de cometer alguns erros graves e cenas infantis, como na que Dieter pega escondido um prego ou como na própria execução do plano que é um pouco melancólica. O que realmente enaltece o filme são as atuações de Steve Zahn, que provavelmente nem ele pensou poder atuar tão bem, e de Christian Bale. Os dois inclusive emagreceram bastante para fazer o filme, mas o choque fica por conta do Christian já que ele começa com físico forte e musculoso e à medida do tempo que o personagem vai degradando-se fisicamente ele vai emagrecendo e emagrecendo cada vez mais. Impressionante a integridade física a que se submete este ator, quem assistiu ´´O Operário`` sabe exatamente do que estou me referindo. Um ator super talensoso com um futuro bastante promissor, força de vontade nos filmes é com ele mesmo. Quer que alguém de forte torne-se raquítico no seu filme ? Chame Christian Bale rsrsrs.

Enfim, não é lá um filme tão marcante, é apenas regular. Passou praticamente despercebido dos cinemas, mas para quem gosta de ver a deterioração de um ser-humano numa película e os atos degradantes a que este submete-se para continuar vivo seu meio, vale a pena conferir. O roteiro é meio fraco, vê-se no início e final que não empolgam em momento algum. A direção embora ótimas em alguns particulares, como na demonstração do contato entre homem e natureza (tipíco de Herzog), não apresenta nada de criativo, penso eu um dos principais aspectos para o filme não engrenar muito.

P.S. Olhem como Crhistian Bale e Steve Zahn estão magros na foto postada.

Cotação: 6.5

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O Filho da Noiva


Título original: El Hijo de La Novia
Ano de lançamento (Argentina): 2001
Direção: Juan José Campanella

Não possuía muito conhecimento do cinema de nossos hermanos como do cinema mexicano e claro brasileiro na América Latina, até conferir o belo e emocionante El Hivo de la Novia. Um filme que despertou meu interesse quanto às produções feitas pelos nossos vizinhos, e que desde já quando surge a oportunidade procuro assistir a uma película argentina. Integrante deste grande celeiro do cinema latino-americano muitos consideram o cinema argentino como o melhor do continente, o que na minha peculiar opinião não confere, pois considero o cinema mexicano e acima de tudo brasileiro (sem patriotismo) superiores a esses ´´pernas de pau`` rsrsrs. Isso tiraria o mérito das grandes películas feitas no país ? Logicamente que não.

Ao menos algo que se destaca como o melhor lá é o seu grande e excelente ator Ricardo Darín, sem dúvidas o melhor ator latino junto com Gael Garcia Bernal, além de claro possuir um dos melhores diretores tal como Juan José Campanella. A união destes grandes profissionais resume o que há de melhor no cinema argentino atual, com filmes de grande qualidade e toques humanos e emocionais semelhantes aos filmes europeus. O Filho da Noiva é um claro exemplo disso; uma história simples com pessoas simples, mas que entristece, emociona e encanta ao espectador, não somente pela simplicidade, mas também pela suavidade da trama.

No longa Rafael Belvedere (Ricardo Darín) é um rapaz que sofre de crise, por está encarregado de muitas responsabilidades e preocupações acerca do seu trabalho, no qual é dono de um bem sucedido restaurante, herdado de seus pais. Devido ao trabalho ele mal tem tempo para sua filha, esquecendo a garota na hora do lazer e voltando-se ao trabalho. Sua atual namorada faz de tudo para chamar a atenção e agradar Rafael, sempre sem sucesso. Rafael quase não visita sua mãe Norma (Norma Aleandro) numa clínica, que sofre de alzheimer e vai perdendo a memória, e tem frequentes brigas e desentendimentos com seu pai. Quando sofre um ataque cardíaco que por pouco não tirou-lhe a vida, Rafael passar a perceber a importância de todos seus entes queridos à sua volta e quando Juan Carlos (Eduardo Blanco), um amigo de infância o visita, ele passa com a ajuda deste a reconstruir seu passado e modificar seu presente.

Eis que surge então a ousada idéia de Rafael; realizar o grande sonho de sua mãe, que era casar-se com seu pai na Igreja e com a ajuda de todos ele vai alcançando-o descobrindo um novo rumo para sua vida. Ricardo Darín está como sempre espetacular, ele consegue refletir para nós espectadores os momentos sentimentais nas diversas fases do personagem, mais emocionante ainda nos últimos minutos do longa onde podemos ver seus olhos brilhando, como se aquilo tivesse sido a maior realização de sua vida, e talvez fosse, pois seria o renascimento de Rafael, agora mais concentrado no que realmente interessava. Eduardo Blanco está ótimo como o amigo brincalhão e deprimido com o passado de sua filha. Norma Aleandro sobra em cena, simplesmente perfeita todas as cenas em que aparece, demonstrando e passando-nos a verdadeira ângustia e crueldade de uma doença como essa.

Um roteiro fantástico com dramaticidade, humor e poeticidade mantidos no mesmo equilíbrio que tornam o filme divertido e emocionante. A direção é criativa e mantém o espectador sempre preso à história do longa, obtendo o máximo dos atores para que assim possamos torcer por eles. E a cena do pedido de casamento ? Nossa... impossível não chorar nesta cena rsrsrs. Se os argentinos não jogam bola como nós, ao menos fazem um cinema decente, mais do que isso, excelente.

Cotação: 9.0