quarta-feira, 28 de maio de 2008

Os Infiltrados


Título original: The Departed
Ano de lançamento (E.U.A): 2006
Direção: Martin Scorsese


Martin Scorsese é para mim e para muitos admiradores da sétima arte o melhor diretor vivo do cinema, já eu ainda vou mais longe. Considero-o melhor diretor da história dentre todos os outros grandes diretores a que eu tive a oportunidade de apreciar. Apenas olhem a sua filmografia que varia desde clássicos memoráveis como Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros, Cassino até obra-primas menos conhecidas e não por isso menos consagradas como Caminhos Perigosos, A Cor do Dinheiro, Depois de Horas, Cabo do Medo, Gangues de Nova York, O Aviador, entre vários outros. Era o ser - humano vivo mais injustiçado pela Academia até vim ganhar seu Oscar tardiamente por Os Infiltrados.

Depois de ter sido injustiçado e algumas vezes esnobado pelo Academy Awards, Scorsese viria a ganhar seu primeiro Oscar de direção por um filme em que voltava às suas raízes. A violência suburbana e o mundo da máfia ressurgiriam. O principal destaque deste tipo de filmes de Scorsese é exatamente o realismo incrível que se passa nas telas, ajudado principalmente pelas ótimas atuações que ele retira dos atores, pela sequência dos fatos e claro pela violência, da maneira visceral e natural com que ela é tratada, andando lado a lado com o humor negro, fato bastante constante em seus filmes.

Pois bem, no post anterior comentei sobre o filme original em que Os Infiltrados se baseia; Conflitos Internos. E pela segunda vez Scorsese consegue fazer um remake superior à sua obra original, vide Cabo do Medo. Apontei algumas falhas na direção e principalmente no roteiro de Conflitos Internos, e aqui nesta versão americanizada essas falhas são devidamente corrigidas e melhoradas. O fantástico roteiro de William Monaham não só muda os nomes e o local da trama, ele reinventa basicamente tudo, sua transformação da história de Hong Kong para Boston foi espetaculamente bem feita e realizada. Como comentaram no post anterior, ele reimagina e faz com que Os Infiltrados, embora possuam a mesma temática e sequência, seja uma trama diferente de Conflitos Internos.

Os longas de Marty são como já refletido bastante realistas, mostram o mundo que se aborda no filme como ele realmente é. E para basear-se nesse aspectos, Scorsese fundamenta-se em três princípios quando se fala de bandidagem; o erro e fragilidade humana, a violência suburbana e o humor negro. Todos andam lado a lado e ou alternam ou ocorrem ao mesmo tempo da película, todos estão sujeitos a sofrer ou até praticar a violência, dependendo do momento de fragilidade em que se encontram, sem nunca perder as piadas de excelente bom gosto contadas ao longo da obra que serve para além de quebrar o clima, manter um realismo a mais.

Mas não é somente isso que merece destaque na direção de Scorsese. Além desses aspectos já conhecidos da sua filmografia, ele ainda nos passa uma tensão acentuando num suspense agonizante, assim como Conflitos Internos, mas em The Departed esse suspense é passada de maneira mais natural, isso se deve à maturidade de sua direção e claro a excelentes atuações que acompanham e seguem uma narrativa impecável, que retira de todos o seu máximo. Não é preciso falar a história do longa penso eu, todos já devem ter assistido, mas rapidinho.

Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) se infiltra na máfia de Frank Costello (Jack Nicholson) , que por sua vez infiltra Collin Sullivan (Matt Damon) na polícia, e quando ambos descobrem a existência de um espião dentro deles, eles tentam identificar quem seria o rato dentro de cada uma. DiCaprio prova mais uma vez que não é o rostinho bonito que encanta as adolescentes mundo afora, tem uma atuação espetacular nos passando um personagem conflituoso e triste com a vida que vai levando. Matt nos passa um personagem mais carismático e talvez por isso mesmo, mais irônico onde se interessa apenas para o que ocorre consigo e nada mais. Já Jack se sobressai e nos apresenta mais um dos mafiosos memoráveis da história do cinema. Martin Sheen, Alec Baldwin, Ray Whinstone e principalmente Mark Whalberg, todo elenco do filme teve uma atuação consistente, ajudada bastante por Scorsese.

E só para constar, o filme faz uma grande crítica à realidade cotidiana, nos seus minutos finais. Na minha opinião; mais uma obra-prima de Scorsese.



Cotação: 9.8

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Conflitos Internos



Título original: Mou Gaan Dou
Ano de lançamento (2002): China
Direção: Andrew Lau e Alan Mak

Para quem ainda não sabe, o filme vencedor da principal categoria do Oscar em 2007 ´´Os Infiltrados``, do mestre Martin Scorsese (o qual será muito comentado por aqui neste blog por ser o maior diretor vivo na minha opinião), é uma refilmagem de um thiller policial chinês chamado ´´Mou Gaan Dou`` da dupla de diretores Andrew Lau e Alan Mak. A refilmagem bastante americanizada e modificada de Scorsese gerou na maioria boas críticas, mas obteve também algumas ruins, o que não impediu o sucesso do filme.

Pois bem, resolvi falar paralelamente dos dois em duas postagens. Primeiro postarei e falarei sobre o original e em seguida falarei sobre o filme de Scorsese no outro post. A semelhança dos dois longas é notória, são temas bastantes atuais e complexos que se discutem e avaliam-se em ambos os filmes. Ambos são muito bons, muito bons mesmo, mas devo confessar que no quesito maturidade, além da dramaticidade e do suspense que é refletido nos dois longas, ´´Os Infiltrados`` consegue ser melhor do que o próprio longa original. Muita gente aqui vai discordar, o que é altamente normal, mas na minha opinião Scorsese nos trouxe mais uma de suas obra-primas do gênero, enquanto Lau e Mak um ótimo suspense policial que se sobressai em alguns aspectos e falha em outros.

A história é basicamente a mesma. Chan (Tony Leung Chiu Wai) recebe a árdua missão de se infiltrar na ascendente máfia de Triad (Eric Tsang), que por sua vez manda Lau (Andy Lau) para servir de espião na polícia para os criminosos. Por uma sequência bastante flash e um pouco confusa vemos o que vinha acontecendo com cada um dos infiltrados (a ascensão de ambos no mundo do crime e da polícia). Se passam 10 anos ( está aí uma das grandes diferenças entre os dois filmes) e os dois continuam seguindo suas dupla-vidas, o que perturba claramente Chan, já bastante desgastado do cotidiano de que era obrigado a seguir nesse enorme período. Quando numa transação de drogas percebe-se a existência de um espião dentro da máfia e outro dentro da polícia, os dois tentam a todo custo desmascarar o infiltrado de ambos os lados.

Essa transação de drogas aliás é um dos pontos altos do filme. Em ´´Os Infiltrados`` essa cena é a mesma em que a trupe de Costello faz uma transação de chips com uns chineses. Então, essa sequência aqui é muito mais intrigante e tensa do que a passada no remake. Chan se comunica em código morse com o chefe da polícia enquanto Lau percebe e tenta avisar ao criminoso que ele desfaça a transição, pois havia um espião. Essa cena admito, é melhor do que a cena em ´´The Departed``, mas no conjunto ´´Mou Gaan Dou`` perde.

Por exemplo; um erro constante no filme que se repete inúmeras vezes demasiadamente é aquela velha mania de voltar cenas do passado. Como na cena do envelope em que Chan se dá conta da indentidade do bandido infiltrado. Voltamos ao passado para rever ele escrevendo no envelope, com uma fotografia mais clara meio que parecendo coisa de novela mesmo. E infelizmente não é só uma única cena, quem assistiu ao filme sabe. Mas entre todos os erros do filme não há um sequer que danifique seriamente a grande qualidade do filme, que merece destaque como um ótimo longa de suspense policial, divertido, triste e irônico.

O filme é ótimo. A direção é consistente, se perde em alguns pontos de imaturidade, mas se salva em outros de criatividade. O melhor claramente são as atuações, principalmente do Tony Leung que rouba a cena com um personagem bastante complexo e cansado, que quer apenas abandonar seu cargo e rumar para outra vida. O roteiro pode-se perdoar todas as falhas existentes, pois é cheio de reviravoltas assim como ´´Os Iniltrados``. Enfim, é um ótimo filme, mas perde para seu remake, pois não se pode disputar com um gênio como Scorsese.

Cotação: 7.2

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ladrões de Bicicletas


Título original: Ladri di Biciclette
Ano de lançamento (Itália): 1948
Direção: Vittorio De Sica

Há quem diga que este seja o melhor filme que representa o neo-realismo italiano e realmente, depois de assistir, é difícil discordar. Os elementos da realidade são transportadas para a obra possuindo uma enorme veracidade e que, em algumas cenas, se aproximam de um documentário. Esse movimento servia para mostrar a realidade social e econômica do país na época e é exatamente isso, com uma perfeição incrível, que ´´Ladrões de Bicicletas`` passa da Itália pós-guerra para a tela.

Em Roma Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani), um desempregado casado e pai de dois filhos, recebe a oferta de um emprego como colador de cartazes. Para assumir o cargo ele teria de fazer uso de uma bicicleta durante seu turno, assim Ricci com ajuda da mulher consegue recuperar sua antiga bicicleta que havia penhorado. Feliz e bastante esperançoso quanto ao futuro seu e de sua família ele parte para o seu primeiro dia de trabalho, quando uma fatalidade acontece. Logo em seu primeiro dia, ela é roubada e Ricci não consegue alcançar o ladrão.

Desolado ele volta para casa, primeiro pegando seu filho mais velho (o outro é recém-nascido) através de um ônibus lotado em que ele precisa furar fila para não deixar o pequeno garoto esperando mais do que já estava. Desde já, vemos a incomunicabilidade que ele (o pai) tem para com seu filho , acentuando uma falta de demonstração de carinho e afeto. Mas não pensem que o que falta é carinho e afeto pelo menino, pelo contrário, ele adora o garoto e apenas não sabe demonstrar isso, o que faz o menino se sentir incomodado.

Decidido a recuperar sua bicileta no dia seguinte (domingo), antes que chegue segunda e ele perca prematuramente seu novo emprego, ele parte com seu filho Bruno (Enzo Staiola), com quem ele mal se comunicava já dito anteriormente, numa busca incansável, intrigante e emocionante pelo homem que havia lhe roubado ´´o futuro``. Era assim que Ricci considerava aquela bicicleta, com ela e o emprego ele e seus filhos não passariam mais fome e teriam uma vida ao menos confortável e suportável. O mais tocante do filme é além da busca de felicidade de Ricci com seu filho Bruno, a própria tentativa de aproximação entre ambos que Vittorio De Sica passa de maneira densa, difícil, a partir de diferentes comportamentos e atitudes do pai do garoto. Enquanto ele indignado com o que lhe está acontecendo anda pelas ruas sem olhar para o menino, que quase é atropelado sem o próprio pai perceber, ele leva seu filho a um restaurante fino (mesmo com miúdos no bolso) para tentar alegrá-lo em outro momento, e a preocupação dele com o filho é angustiante com close-ups no rosto preocupado de Ricci, amedontrado de ter acontecido um acidente com o garoto, em outra cena do filme.

Com takes fantásticos da cidade de Roma, ainda que com poucos recursos, Vittorio De Sica tenta mostrar a cidade Roma como um todo, todas suas camadas sociais e econômicas, onde Ricci e sua família eram apenas mais um dos vários casos de pobreza e superação. E de fato, a história por qual o personagem passa na busca de sua bicicleta é uma história de superação, muito triste e engraçada momentaneamente. Nossa torcida para que dê tudo certo com nossos heróis reais, pobres e frágeis (como seres-humanos que são) é incondicional, o que aliás é outro ponto importante do filme, que mostra como o homem em momentos de fragilidade pode agir aleatoriamente, sem pensar nas possíveis consequências.

E a cena que remete tudo do filme, junta todos os aspectos, é a cena em que Bruno vai até seu pai chorando e segura sua mão; aquilo tudo proporcionou uma reaproximação, ainda que tímida, entre pai e filho, seja o final triste ou feliz, o que num filme como esse acaba a graça se revelado para quem ainda não assistiu. Sem dúvidas, uma obra-prima e um dos melhores filmes da história.

Cotação: 10