domingo, 2 de novembro de 2008

Última Parada - 174


Títilo original: Última Parada - 174
Ano de lançamento (Brasil): 2008
Direção: Bruno Barreto

Escolhido como representante brasileiro na corrida do Oscar, ´´Última Parada - 174`` de Bruno Barreto possue aquelas mesmas temáticas sociais já adotada em vários outros filmes do excelente cinema nacional. Não fosse o ótimo roteiro e a direção segura de Barreto o filme poderia cair num deja vu sem fim, aliás por que sempre a pobreza tem de ser divulgada mundo afora pelo nosso cinema? Filmes melhores é verdade poderiam ter sido escolhido para tal cargo, mas nenhum desses aspectos tira o mérito do nosso representante como um bom filme, chegando a ser revoltante por baseiar-se numa história real. Ao contrário do que muitos dizem, não considero este filme uma tentativa de vitimizar e romantizar o Sandro. Encarei-o como a biografia de um marginal, apenas um dentre tantos à solta no nosso país, e talvez essa tenha sido a verdadeira intenção do diretor.

Sandro (Michel Gomes) teve realmente uma infância difícil, roubado das mãos de sua mãe por um traficante de drogas ele foi entregue a uma outra mulher que o ´´adotou``. Esta foi brutalmente assassinada por um ladrão e o menino foi morar com a irmã de sua até então mãe. Inconformado ele foge de casa e passa a viver como um menino de rua, onde se perde no mundo das drogas e passa a cometer pequenos furtos e roubos, para mais tardiamente após escapar do ´´massacre da Candelária`` se juntar a Alê Monstro (Marcelo Mello) e fugir da prisão de menores. A partir daí ele se torna um verdadeiro bandido, cometendo assaltos. Sua mãe verdadeira Marisa (Cris Vianna) parte à procura de seu filho, a fim de resgatá-lo daquele mundo e tentar lhe dar uma vida melhor, mas nada poderia convencer Sandro de que ele era apenas um garoto e tinha chance de ser salvo.

Me surpreendeu bastante a direção de Barreto, embora houvesse falhas claras. O principal mérito foi manter o ritmo de uma verdadeira biografia sem que ela caísse no desgosto por se tratar de uma figura transformada em monstro pelo país. Fez uma direção segura e bastante centrada e organizada, mas peca somente em algumas cenas superficiais por demais que poderiam levar o espectador aí sim a pensar dele estar querendo vitimizar o bandido. Outro aspecto importante de sua direção foi não permitir que o filme se tornasse lento, ajudado bastante pela boa fotografia e ótima montagem, mas principalmente pelas ótimas atuações, principalmente do seu protagonista. Parece ter muito futuro esse Michel Gomes. A trilha sonora serve para avisar de que algo terrível e trágico viria a acontecer, e funciona em certo ponto. Um ponto fraco do roteiro e do diretor foi explocar muito pouco o assalto, a parte mais esperada do filme na verdade. Ele foi enfocado como apenas mais uma parte da vida de Sandro, e por esse aspecto o longa perdeu muito de sua tonicidade e realidade. Além de que algumas cenas clichês no momento mais inoportuno (Walquíria gritando ´´Alê``), e revoltante como a de ver um bandido safado como Alê Monstro, que matou uma mulher à sangue frio, derramar lágrimas por Sandro e consolar a sua mãe no enterro.

Lembro como hoje do assalto ao ônibus 174, aliás quem assistia à tv na hora não tem como não lembrar. Como eu disse, a história de Sandro é só mais uma dentre várias, mas também de várias que não seguem o mesmo caminho vermelho deste, e hoje possuem emprego, casa, filhos, esposa. Ele nunca vai ser um herói, muito menos uma vítima. Embora tivesse propício a se tornar aquilo ele teve por diversas vezes a escolha entre o bem e o mal, e sempre escolheu o mal. Poderia continuar morando com a tia e não o fez, poderia ajudar e viver auxiliado pela tia Walquíria (Anna Cotrim) como aparentemente outros meninos fizeram, ou até ter vivido com sua mãe e buscar um outro rumo. Mas não, ele por livre arbítrio escolheu seu caminho e foi justamente isso o que o roteiro de Braulio Mantovani tentou demonstrar. Ninguém nasce para isso ou aquilo. Todos nós temos a oportunidade de escolher se vamos entrar na porta azul ou vermelha. Boa educação e tratamento ajudam na hora de escolher é verdade, mas isto muito mais depende da índole da própria pessoa.

Cotação: 7.5

9 comentários:

Unknown disse...

É Sérgio, eu não concordo quanto à metáfora das portas azul ou vermelha. Não acho que funcione assim. A desigualdade de condições leva sempre à porta vermelha, cujo corredor ao materialismo, às posses, aos desejos mercantilistas é muito mais curto. A porta azul é pra gente que não tem pressa de sair da casa dos pais, que ganha carro quando faz 18 anos, que vai pra noite de roupa nova, que usa chuteira do Ronaldinho pra jogar bola, que tem computador para ser lido e ouvido.

Eu acho, sim, que ele era vítima. E como vítima que era, acabou vitimando outros que não tinham nada a ver diretamente com sua história. E não adianta dizermos que nós somos a favor de um estado de paz se aceitarmos o estrangulamento do bandido pelos policiais no camburão, a caminho da delegacia. Não é o papel da polícia fazê-lo, como não é nosso papel aceitá-lo.

Quanto ao filme, tudo bem ser parcial. Ou não. Tudo bem se for imparcial também. É uma obra ficcional, apesar de baseada em fatos reais. Provavelmente não vai ganhar o Oscar, porque o prêmio é deles para eles.

E acredito que, enquanto não diminuirmos o abismo social - que é flagrante no Rio -, vamos ter novos Sandros por aí, seduzidos pelo materialismo que nós mesmos criamos.

Abs!

Kau Oliveira disse...

Sergio, dei a mesma nota que você. E o que fez o filme decair nestes termos foi justamente a direção errada de Bruno. Erra na condução do elenco, falha ao transpor o texto de Mantovani (que é espetacular), falha no ritmo do filme, o qual está totalmente longe de ser correto e erra ao inserir cenas absurdas e que não cabiam no filme.

Não vejo erros no clímax, uma vez que este é composto por várias sequências, as quais antecedem o seqüestro. Elas são o porquê de Sandro ter feito o que fez e, aqui, mais uma vez elogio o texto que, a meu ver, em hora nenhuma quis fazer do garoto um herói ou coisa do tipo.

Abraços.

Anônimo disse...

Agora que finalmente chegou aos cinemas, não estou com muita vontade de ver, até porque todos os comentários foram mornos ou simplesmente não gostaram do filme.

Cecilia Barroso disse...

Oi, Sérgio!

Concordo que não houve uma tentativa de vitimizar Sandro, mas acho que o filme não funciona como deveria.

O roteiro é muito bom, mas a direção é frouxa e não consegue, em momento nenhum, alcançar a melhor cena ou a melhor atuação.

Spoilers, gente!!!
Quanto à história, a mãe de Sandro realmente morreu e ele se aproveitou da busca desesperada de Marisa para tentar arrumar uma família. Marisa só conhece seu filho no enterro, pois é a primeria vez que está com Alessandro.

Beijocas

Vivi Ferreira disse...

pela quantidade de contradições vistas no filme pela critica em geral. Achei sua nota bem positiva!
bjooooooooooooo

www.cinefilando.blogspot.com

Sergio Deda disse...

Dudu... tudo bem dizer que Sandro era uma vítima da sangrenta violência e estado de miséria de algumas parcelas de nosso país hoje, mas oq pretendo ressaltar é que existem tantas pessoas que passaram por coisas piores que Sandro e nem por isso acabaram no mesmo caminho, pessoas que até foram forçadas a cometer atos vergonhosos por diversas vezes, mas que decidiram um dia tomar a atitude certa. Sandro era sim uma vítima neste sentido, mas uma vítima com escolha, ou seja se levarmos em consideração a vítima não costuma ter escolha...

Kau... não acho um horror a direção do Bruno Barreto... pelo contrário, me surpreendeu, mas obviamente há falhas claras e algumas até absurdas, mas no geral considero um resultado positivo... e olha que não gosto muito dele não, pra mim raramente ele faz uma coisa boa...

Vinícius... tb estava com essa idéia na minha cabeça, mas como já tinha decidido de ir assistir fui e não me arrependi, pelo contrário... fiquei surpreso com oq vi...

Cecilia... não achei a direção frouxa, apenas não conseguiu passar a mesma tonicidade de uma cena como tinha sido a outra, talvez mesmo por um defeito que acho do Bruno.... não saber desenvolver muito bem seus personagens... mas no geral acho as atuações muito boas...

Violinista do cinema... por isso que até me surpreendi por ter gostado do filme, devido as críticas severas esperava muito menos...

Ygor Moretti disse...

Como ja disse em outro blog, ~quero muito ver esse filme, e creio q tenha sido uma boa escolha para o Oscar, eu particularmente naum me incomodo em "exportar" uma iamgem de pobreza e violencia do pais, prefiro valorizar o projeto e a execução independente do tema.

Abraçoe te mais.

Robson Saldanha disse...

Sérgio, eu não consegui ver o filme de outra forma, vi que ele teve oportunidas mas a vitimização é clara, talvez você queira ter enxergado isso. Interessante quando falou "aliás por que sempre a pobreza tem de ser divulgada mundo afora pelo nosso cinema?" porque eu também tenho o mesmo pensamento, chega disso! Esse filme é mediano pra mim, podia ter sido melhor, em vários aspectos!

Anônimo disse...

Não sei muito o que esperar do filme e, portante, verei neste Domingo sem expectátivas. Espero acahar um bom resultado.

Ciao!