sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira



Título original: Blindness
Ano de lançamento (Brasil/Canadá/Japão): 2008
Direção: Fernando Meirelles

Nossa! Finalmente de volta!
Fui repentinamente forçado a me ausentar por um certo tempo sem ter a oportunidade de dar satisfações, pc quebrado, semanas de prova na faculdade, aulas da auto-escola. Enfim, agora estou de volta e com atualizações muito mais regulares, podem estar certos disso.

Finalmente também digo por ter assistido Ensaio Sobre a Cegueira, filme que estreou por aqui na minha cidade cerca de quase um mês depois da estréia nacional. Corri para o cinema assim que soube da excelente notícia. Afinal li o livro fabuloso de José Saramago e estava muito ansioso acerca do filme. Antes de nada vale ressaltar o grande casting além de um ótimo diretor do qual o filme contava. Meirelles vem fazendo cada vez mais sucesso mundo afora após o sucesso internacional de sua obra-prima Cidade de Deus. E seu grande mérito neste longa é aprofundar-se no interior dos personagens, assim como feito no livro, e tentar passar a naturalidade a todo momento como nas boas cenas de humor e casualidades que ocorrem. Penso ainda que no primeiro quesito ele e o roteirista poderiam ter se aprofundado mais.

Aparentemente está a acontecer uma epidemia de cegueira pelo país, e os primeiros casos além dos que tiveram contato com estes são mandados para uma quarentena sobre investigação. O número de grupos aumenta cada vez mais e a quarentena é isolada e vigiada pelos soldados. Uma mulher simples esconde que consegue enxergar perfeitamente e não fora ainda afetada pela ´´treva branca``. À medida que a convivência vai ficando insuportável e desumana, diante de mortes, estupros, fome, sujeira intolerável, e após um incêndio provocar a saída forçada pelo instinto de sobrevivência destes da quarentena a mulher que enxerga (mulher do médico) percebe não haver mais soldado algum por ali, além do portão estar aberto, e assim todos estarem livres. Juntam-se a um grupo ela, seu marido e mais 5 por quem se aproximaram (os primeiros casos na verdade), estes um casal, um homem de idade, um garotinho e uma bela jovem.

Assustam-se com o que sentem, e vê, a mulher do médico; todos estavam cegos e a cidade estava ao colapso, suja e acabada, sem energia e comunicação. Todos um bando de cegos a procurarem apenas por comida e buscando a sobrevivência, até quando esta poderia durar. Esta mulher então resolve guia-los e ajudá-los por ser a única aparentemente que podia ver, ver aliás a total desgraça e dependência humana. O livro é fantástico em todos os sentidos. Meirelles até tenta passar o mesmo drama humano que se sente no livro, mas falha em certos aspectos. Estudar por mais o interior dos personagens, dentre eles o rapazinho estrábico que é uma triste e sublime metáfora do livro, além de poder junto ao seu roteirista ter dedicado mais cenas que pudessem analisar mais detalhadamente os principais personagens, como por exemplo a não filmada (creio eu) parte do livro em que visita-se a casa de três deles.

Outro exemplo que pude retirar foi o fato do filme dedicar apenas uma cena a um dos personagens mais importantes do livro na minha opinião; o cão das lágrimas. Este cão por diversas vezes na obra de Saramago se mostra muito mais humano do que os próprios, e embora houvesse a muito bem dirigida cena em que este aparece pela primeira vez enxugando as lágrimas da mulher do médico mesmo assim não soa o bastante. Reparem inclusive como nessa cena enfatiza-se cães comendo um humano morto ao chão e logo depois passa este cão das lágrimas e em vez de se juntar aos outros caninos vai em direção à mulher. Seria ótimo então mais cenas como essa, e mais cenas de seus próprios personagens, seus peculiares como bem mostrado no livro. O final foi um pouco adiantado.

Mas nenhum desses problemas retiram o mérito do bom filme, aliás por algumas vezes Meirelles demonstra o drama humano do longa (como nas duas cenas da fogueira do casal) e o afasta de ser um grande épico cheio de aventura e terror. O filme é um ensaio sobre a cegueira, assim como seu livro, uma hipótese de como seria diante de uma sociedade tão burocrática e degradante como a qual nos encontramos hoje. Um grande aspecto da direção de Meirelles é a naturalidade passada nos seus filmes, e neste brilhantemente enfatizada nas todas ótimas cenas de humor. Bernal imitando Stevie Wonder? Ótima sacada do roteiro. Aliás a atuação de Bernal embora pequena é espetacular, ele interpreta um moleque, apenas um moleque que tenta se aproveitar por portar uma arma. Todo o elenco se comportou bem e soube com a ajuda de Meirelles passar a devida naturalidade e dramaticidade necessária para o filme, com maior destaque para Ruffalo e Alice Braga, além da eficiente mas não excelente atuação da Julianne.

Uma trilha sonora que para muitos possa soar impaciente, mas é uma verdadeira perfeição diante das cenas filmadas. A fotografia claríssima e a montagem confusa por vezes parecem exageradas, mas serve para demonstrar um pouco do mundo em que os cegos estavam enfretando. O filme é como seu livro um estudo dos cegos, dos cegos que já eram cegos, dos cegos que sempre foram cegos e nunca tiveram a capacidade de enxergar isto.

Cotação: 8.0

12 comentários:

Anônimo disse...

Vou assistir a este filme, finalmente, amanhã, e tenho altas expectativas em relação à adaptação, já que sou uma fã do livro do Saramago. Volto aqui, então, amanhã para poder comentar com mais calma. :-)

Pedro Henrique Gomes disse...

Gostei do filme também, pequenos detalhes me incomodaram (como a narração final em off), mas nada foi capaz de estragar este belo filme.

Abraço!

Matheus Pannebecker disse...

Acho que esse filme é até um pouco injustiçado, já que teve uma recepção completamente fria e aquém das expectativas. Eu achei o resultado maravilhoso e mais que satisfatório.

Anônimo disse...

Gostei muito do filme também, e realmente a trilha sonora é fantástica.
Pra mim o filme já é uma obra-prima.

Abraço
Mateus

Kau disse...

Sergio, como eu comentei pelos blogs à fora, eu não sou o mais fã do filme. Óbvio que a essência da obra está presente nas telas, mas diminuição de cenas importantes e cortes de outras mais importantes ainda, são coisas impensáveis a meu ver. De qualquer forma, achei a direção de arte irretocável, assim como a excelente atuação de Julianne.

Abraços.

Anônimo disse...

Excelente este filme. Muito boa a condução, ainda que existam falhas, o contexto geral é magnífico e seus últimos minutos, belíssimos. Que elenco! Que soco no estômago!

Nota 8,5

Ciao!

Unknown disse...

Todos os livros do Saramago que comecei a ler me interessaram pelo argumento - cinematográficos demais. Porém, em todos eles, parei no meio. Me incomoda a forma como ele escreve. Eu sei, eu sou o errado, afinal o cara é Nobel.

O que não me impede de ver o filme, coisa que farei em breve.

Abs!

Robson Saldanha disse...

Sérgio... essas coisas são necessárias de vez em quando. Quanto ao filme você acredita que ele só veio estreiar esse final de semana aqui? Um mês depois? Vou conferi-lo amanhã, segunda, que não terei aula!

Cecilia Barroso disse...

Que bom que você voltou, Sérgio!
E a carteira, já tirou?

Bom, eu achei Ensaio Sobre a Cegueira fantástico.
Li o livro e sempre o achei completamente inadaptável para a telona. De repente vem o Meirelles e esfrega na minha cara que eu estava enganada.
Claro que o livro vai ser sempre infinitamente melhor e que muitas passagens marcantes não vão estar presentes na tela.
Mas o filme traz toda a carga do livro, independente disso.
A única coisa que me incomodou de verdade foi a narração...

Beijocas

Robson Saldanha disse...

Tem um MEME esperando por você no meu blog!

Abraço!

Sergio Deda disse...

Kamila... bom filme...

Pedro... realmente nada conseguiu estragar o filme, q eh ótimo...

Matheus... não digo injustiçado, mas abrir Cannes não foi muito uma boa jogada embora por publicidade tenha sido... mas como Meirelles até comentou... o filme eh meio indigesto pra anteceder um jantar chique hehehe

Matheus.. n considero uma obra-prima, o livro eh uma obra-prima.. o filme é ótimo...

Kau.. muitas cenas indispensáveis foram cortadas e algumas até não filmadas realmente.. como eu disse.. adiantaram demais o final...

Wally... consegue como o livro ser um soco no estômago mesmo...

Dudu.. leia por inteiro que não se arrependerá, e o filme tb hehe

Robson... eh osso isso... lembro de Sangue Negro que esperei uma eternidade pra poder assistir tb...

Cecilia... a narração chegou a me incomodar um pouco, mas nem tanto... soh deveria ter um pouco mais de firmeza e tristeza interligdas...

Anônimo disse...

Como prometi, estou de volta após assistir ao filme. Tecnicamente, "Ensaio Sobre a Cegueira" é uma obra muito boa (especialmente no que diz respeito à fotografia, edição e atuações). Só faria ressalvas em relação ao roteiro da obra, que, embora mostre aquilo que o livro do Saramago tem de melhor, tem sérios problemas, especialmente no primeiro ato.