Título original: Watchmen
Ano de lançamento (E.U.A): 2009
Direção: Zack Snyder
Confesso, e sim, me envergonho. Tantas e tantas pessoas falavam da adaptação deste graphic novel, faziam enorme avolroço, expectativa, muitos o listavam no patamar como o filme mais esperado do ano, enquanto outros, o consideravam como a adaptação de HQ dos cinemas mais esperada da história. ´´Nossa, que exagero!``, pensei. Mas não, não é, os quadrinhos inventado por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons é o panorama de uma realidade fantasiosa e ficticia, mas que a todo momento soa mais real do que a própria realidade de sua época, mostra um mundo perdido entre indivíduos parodoxos e igualmente transtornados, mas comuns em relação à situação em que se encontram, pois sabiam estes que tudo fora resultado de suas próprias atitudes, ações saídas de suas mãos, e como dito numa passagem do filme (e acredito também no HQ) não haveria como impedir a natureza humana de tomar seu curso, sua evidente trajetória à desgraça. E se, felizmente, esse aspecto sombrio não tomou face naquela época, ele parece estar cada vez mais próximo e real, o que torna a estória de Alan Moore contundente a qualquer época que seja, hoje ou 20 anos à frente. Por isso, mesmo sendo uma graphic novel, é considerada por muitos como uma das maiores obras da literatura de língua inglesa da história, e portanto a adaptação para os cinemas era aguardada ansiosamente, e temerosamente pelos seus inúmeros fãs em todo o mundo.
E levando em consideração este ponto, Zack Snyder e seus roteiriristas acertaram em cheio tamanha a dificuldade de adaptação da obra, sempre sob olhares atentos. Em 1977 é aprovada nos E.U.A a Lei Keene, que proíbe as atividades dos mascarados em combate ao crime. Um mundo onde os E.U.A venceram o conflito no Vietnã, ajudado pelo Dr. Manhatan (Billy Crudup), um humano que acidentalmente fora geneticamente modificado e ganhou poderes e formas sobre-humanas. Quando chega 1985 a Guerra Fria está no seu limite e a qualquer momento uma guerra nuclear, vitimizando milhões de pessoas, irá acontecer, preocupando o eleito pela quinta vez consecutiva presidente Nixon. É então que um dos mascarados é assassinado, o Comediante (Jefrey Dean Morgan), e um de seus antigos companheiros Rorshach (Jackie Earle Haley) teme que exista um assassino de mascarados à solta, e começa a investigar os casos, junto com outros ex-companheiros, tais como Coruja (Patrick Wilson), Espectral (Malin Arkeman) e Adrian Veidt (Mathew Good).
A trama é complexa, a premissa é fabulosa. Realmente a idéia original é sublime, genial. Acompanhamos um mundo distorcido e ao mesmo tempo realista, natural, ao refletimos sobre a natureza destruidora e selvagem do homem. Portanto, em relação à mensagem da trama, o filme deve ter se mantido fiel aos quadrinhos. Temos entretanto ótimas, boas e irregulares atuações, diria até ruim em alguns casos. Patrick Wilson é o primeiro a decepcionar, o talentoso ator falha ao tentar passar a fragilidade sentimental de seu personagem de maneira muito perplexa, e cai em exageros, assim como Malin Akerman aspira enorme sensualidade com sua Espectral, mas não tem sucesso na parte dramática. Mathewm Goode e Billy Crudup interpretam de forma simples seus personagens, assim como Carla Gugino que pouco faz. O destaque mesmo fica para dois atores que incorporam em si personagens bem parecidos em sua personalidade, tanto humorística e sádica, como auto-destrutiva. Jackie Earle Haley voltou com tudo na sua carreira e é impactante e perturbador desde da primeira à última tomada. Já Jefrey Dean Morgan, além de pegar o melhor persona, o explora detalhadamente e o transforma na mais perfeita visão da realidade que aquele mundo tomou, personagem marcante e uma atuação fantástica (seria o máximo um Downey Jr. nesse papel).
Os roteiristas, embora falhem repetidas vezes, como a mal explorada e abordada relação entre Laurie (Espectral) e Dan (Coruja), tal como esta com Jon (Manhatan) e em situações cômicas pouco interessantes e nada plausíveis, são perdoados ao conseguirem retirar a essência da obra de HQ, a verdadeira eficácia desta. Zack Snyder prova mais uma vez ser talentoso, e abandona a excessiva utilização estética do bom ´´300`` para uma abordagem mais realista e sombria do mundo retratado, além de manter a narrativa em um ritmo forte e concentrado, mesmo perdendo sua freneticidade em algumas sequências. Embora perca-se em alguns momentos do longa (algo impossível de não acontecer para um diretor iniciante numa trama tão complexa) ele realiza uma boa continuidade épica e misteriosa, com excelentes cenas de ação e luta, pecando um pouco ao cair no superficialismo no estudo intímo de certos personagens. O maior erro de sua direção, porém, fora talvez a escolha da trilha sonora da fita, pois embora as músicas na sua maioria sejam clássicas e memoráveis, em nada se assimilam ao exato momento que está transcorrendo nas telas. Talvez uma tentativa de tornar o filme como ´´cult`` mal sucedida.
Com qualidades técnicas invejáveis e extremamente bem realizadas, ´´Watchmen``, embora possua suas falhas, apresenta-se como uma obra competente não somente aos fãs da graphic novel, sobretudo aos bons admiradores de uma aventura ficticia, um retrato de um mundo paralelo que poderia ser o nosso e infelizmente ainda pode vim a ser, por mais surreal que possa parecer.
Cotação: 8.0