Título original: La Marche de L´Emperour
Ano de lançamento (E.U.A/França):
Direção: Luc Jacquet
Imenso fã de documentários sempre procurei acompanhar o que de novo surgia no gênero atualmente, certas vezes um documentário nos transborda tanto para aquele mundo, aquela situação, que nos sentimos inúteis ou até perplexos, já que diferente de um longa de ficção, aquilo está realmente acontecendo, é o verdadeiro mundo real, a trama existente abordada por uma determinada temática. Porém tinha receios quanto ao documentário francês vencedor do Oscar ´´A Marcha dos Pinguins``, pensava que poderia se tornar só mais uma aula educacional dos canais National Geographic ou Animal Planet (ótimas, mas com um certo tempo enjoativas). Entretanto o longa francês em nada se parece com o a visão adotada pelas filmagens do canal, já que possuindo um estilo de narrativa totalmente diferente e inovadora a percepcção que retiramos da trama se encaixa perfeitamente na denúncia de uma visão egoísta nossa, ao ponto que forçando-nos a encarar e ver aqueles animas como seres-humanos, sentimos pena, torcemos, e sim, quase choramos. Eu mesmo repeti comigo mesmo por diversas vezes ao longo da película; ´´gente..``, ´´povo...``, ´´menino...``. E em contrapartida somos obrigados a perceber que seres ditos irracionais possuem uma trajetória de vida mais condizente com a de um ser extremamente racional.
Na Antártica (local mais inabitável da Terra), a cada inverno, milhares de pinguins imperadores deixam o confortável habitat do oceano e sobem à terra congelada rumo interior, onde todos inexplicavelmente marcham ao terreno onde encontrarão um par para a reprodução de sua espécie. Essa épica e emocionante trajetória das diversas fases da reprodução e criação dos filhotes é mostrada passo a passo, desde da saída destes para o solo, o encontro com todos, o caminhar rumo ao local, as uniões dos pares, a reprodução, o surgimento do ovo, a caça à comida das fêmeas enquanto os machos protejem o ovo, a libertação dos filhotes, o retorno das fêmeas, a partida dos machos em busca de alimentos, o reencontro da ´´família``, o amadurecimento dos filhotes, e enfim, a volta ao oceano, culminando mais brevemente aos filhotes o mesmo destino. Que imensa vontade senti em utilizar as palavras mãe, pai e filho neste parágrafo. Pois é exatamente este o intuito inteligente e perturbador do diretor Luc Jacquet e do roteirista Michel Fessler, nós espectadores nos sentimos tocados, ao passo que cria-se a freneticidade e curiosidade a todo minuto da projeção, algo complicadissimo, fato que não aparece uma pessoa sequer durante o filme. Portanto encararmos aqueles animais como humanos acaba por desencadear num sentimento nosso pela assim diga-se odisséia dos pinguins.
A narração em off brilhantemente apresentada e executada explica toda a situação de maneira inimaginável, pelo ponto de vista dos próprios pinguins, tais como estes tendo diálogos e pensamentos refletidos na tela pela voz suave de seus narradores (a oficial francesa), a epopéia se torna tão instigante por ser cruel, linda, e trágica. Minuto a minuto queremos saber o que ocorrerá, não por mera curiosidade da vida animal, mas por interesse e solidariedade pelos ´´personagens`` reais. A grandeza do documentário é notável, já que esse período dura vários meses e possui inúmeras fases e complicações distâncias imensas de locais, portanto é fantástico como conseguiram capturar e demonstrar tudo, realmente tudo que acontece, através de câmeras vivissimas a imagem dos pinguins torna-se deslumbrante, uma verdadeira obra de arte das descobertas. Uma pena também a edição do longa não ter sido ao menos indicada ao Oscar, prêmio que merecia disparadamente ganhar. A introdução de uma sequência cronólogica na vida dessas aves realiza-se num dos trabalhos de montagem mais brilhante que tive a oportunidade de assistir. Nada é perdido, cada minímo detalhe é mostrado com precisão, por mais que este seja cruel ou impensável.
Outro ponto importante fora o implemento de uma trilha sonora poética e suave, a mais humana possível, além de músicas primordialmente tocantes em momentos especificos de ´´drama interior`` onde inexistia uma narração para explicar o ocorrido, e não precisava, pela beleza da imagem percebia-se o significado do momento. ´´Gente``, ´´menino``, ´´mãe``. Foram algumas das palavras que repeti durante a projeção da fita. As capturas do documentário nos fazem pensar, pois mesmo os pinguins-imperadores são obviamente irracionais, mas por que estes possuem atitudes tão humanas? Por que retiramos de muitas de suas atitudes as mesmas que as nossas em família ou sociedade? Coisas da natureza, demonstrada com louvor num verdadeiro épico documentário. Até o mais aversivo aos animais vai se deleitear e emocionar-se com o ´´senso humano`` da marcha dos pinguins-imperadores.
Cotação: 9.0
**Caso assista, vai com certeza querer saber mais sobre a maior ave da família Spheniscidae (pinguins), então acesse aqui.